Disciplina e os detalhes são as características da mão de obra feminina. No Dia Internacional da Mulher elas celebram mais uma conquista.

Elas são sensíveis, delicadas e podem até ser mais fracas em força física, mas nem por isso são menos capazes de assumir qualquer profissão, incluindo as usualmente exercidas pelos homens. Cada vez mais, as mulheres provam sua competência nas mais diversas áreas. Em Petrópolis, Região Serrana do Rio, cresce o número de mulheres no mercado de mecânicos de aeronave. Profissionais de alto nível são formadas nos cursos oferecidos no próprio município e aliam a prática à teoria em uma empresa global instalada na cidade.


Especializada em reparo de turbinas de avião, a GE Celma tem no seu quadro de funcionários - com cerca de 1.200 pessoas - 143 mulheres, grande parte mecânicas. Pode até parecer um número pequeno, se considerar que representa quase 12% dos empregados, mas bastante significativo se avaliarmos que a aviação civil, em um passado recente, era dominada somente pelos homens. Para as mulheres restava, apenas, a carreira de comissária de bordo.

Mas a procura do público feminino pela área, principalmente na mecânica, aumenta a cada ano. Segundo Gilberto da Silva, coordenador do curso de manutenção aeronáutica da Escola de Aviação Edapa, a tendência vem crescendo nos últimos cinco anos e vai progredir ainda mais. Hoje, dos 600 alunos matriculados, cerca de 20% são mulheres.

“A tendência é aumentar cada vez mais. Acho que a própria vontade da mulher querer crescer e mostrar que pode fazer foram os motivos desse crescimento. No início foi um impacto, mas com o tempo elas foram provando que são capazes. Desde a sala de aula até como profissional, são os detalhes que vão diferenciá-la dos homens”, destacou o mecânico, que atuou como inspetor de aeronave por 34 anos.

No Senai, onde os jovens aprendizes fazem o curso, cerca de 30% são do público feminino. “Hoje percebemos um aumento gradativo da procura de mulheres em todos os cursos, inclusive naqueles antes dominados pelos homens, como mecânica e elétrica. É o resultado da liberdade do público feminino, da busca por trabalhos que lhes tragam satisfação. Em pleno século 21 e com papel fundamental para o custeio da casa, elas já não se preocupam tanto em restringir suas áreas de atuação àquelas tradicionalmente destinadas ao público feminino. Querem encarar desafios e estão cada vez mais preocupadas em fazer o que gostam”, observou Rogério Sant’Anna, chefe de Educação Profissional do Senai Petrópolis.

A opinião é unânime. Além da competência, a disciplina e perfeccionismo são o que caracterizam o trabalho da mulher. “Elas são muito focadas; têm um poder de concentração muito grande; são ligadas em detalhes; fazem tarefas simultâneas com mais desenvoltura; sem falar que deixam o ambiente mais suave”, observou a gerente de Recursos Humanos da GE Celma, Sandra Costa.

As qualidades da mão de obra feminina são tão apreciadas que a meta da empresa é aumentar o quadro de funcionárias. “A GE valoriza a diversidade. Em cada região temos um foco, e aqui são as mulheres. Não é algo que fazemos de um dia para o outro, temos um plano. Mas certamente é uma prioridade da empresa. As mulheres têm uma garra diferenciada dos homens. E eles também estão vendo que é diferente. São muitos os ganhos perceptíveis para a organização”, pontuou Sandra.

Mão de obra exportada para outras cidades

As profissionais formadas em Petrópolis não ficam somente na cidade. Muitas acabam sendo contratadas por empresas de fora. Foi o caso da mecânica Liliane Henrique, de 33 anos, que há sete anos foi para a Região dos Lagos. Em Macaé, ela trabalhou em duas empresas até chegar à atual, a Brazilian Helicopter Services Táxi Aéreo S/A (BHS), desde 2010. Nela, Liliane faz a manutenção dos helicópteros e divide o turno com mais de 10 homens.

Trabalhando com mais de 10 homens, Liliane brinca com o preconceito (Foto: Arquivo Pessoal/Liliane Henrique)

Para ela, o fato das mulheres estarem dividindo esse mercado com os homens mostra a capacidade de ambos na mesma função. Na empresa em que trabalha, dos 215 mecânicos sete são mulheres. “É muito bom, porque a gente está provando que é capaz de fazer as mesmas coisas que eles fazem, e que antigamente só eles faziam”.

Sem limite de idade para virar uma mecânica

O desejo de se tornar uma mecânica de aeronave atrai as jovens, mas também as mais maduras. Um grupo de funcionárias e estagiárias da própria GE Celma encara a sala de aula diariamente com esse propósito. O preconceito, mesmo discreto, sempre existe.

“Tem sempre um que diz: depois que inventaram a máquina de lavar, essas mulheres ficam inventando coisa para fazer. Mas mesmo soltando uma piadinha e outra, eles sempre tem muito respeito com a gente. Às vezes eles falam um palavrão quando estamos perto e pedem logo desculpa”, conta Helena Neves, de 32 anos.

E não poderia ser diferente, já que muitas retornaram à sala de aula depois de serem mães, cuidarem do lar e também trabalharem. A tripla jornada agora aumenta com a quarta atividade no meio do dia. É o caso da própria Helena, e de outras três. Aline Moreira e Débora Rosa, de 40 anos, e Sandra Rentes, de 43, são funcionárias da empresa e poderiam simplesmente se contentar com a função que exercem. Ao invés disso, decidiram agarrar a oportunidade.

“Eu fiz o curso de usinagem no Senai, entrei para o estágio na GE Celma e depois fui efetivada. Para mudar de área, a empresa exige esse curso e paga para a nossa formação. É muito gratificante ter uma empresa que se dispõe a isso, essa estabilidade de ter o empregado trabalhando em meio período e no outro estudando, para ser ainda melhor. Existe o antes e o depois desse curso, pois ele te deixa muito mais preparada. Dá mais opção para a gente”, destaca Aline Moreira.

A vontade de ter uma boa carreira como mecânica de aeronave também atrai muitas jovens. As estagiárias Bruna de Souza, de 20 anos, Franciele de Andrade, de 22 anos, Aline Zenóbio, de 24 anos, e Ana Carolina Cassiano, de 21, já traçam planos. Para elas, a área é bastante abrangente e dará oportunidade de um futuro mais estável.

“Aviação é apaixonante. A parte de mecânica te oferece um leque de opções, não apenas para trabalhar em aeroporto, por exemplo. É bem vasto. Você sai do curso pronto para atuar no ramo em diversos setores. E mesmo com um preconceito, ou mesmo surpresa por ver mulheres nessa área, acho que em toda a aviação os homens são muito respeitosos com a gente. É um ambiente muito bom de se trabalhar”, comentou Aline Zenóbio.

Andressa Canejo
Do G1 Região Serrana

 
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